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Blog11/08/2014

Nos bastidores do trabalho de consultoria para a sustentabilidade da construção civil

rosana mini

Rosanna Correa, Sócia-Diretora da Casa do Futuro 

Fonte: Revista GBC Brasil /Ano 1

O Brasil está muito bem posicionado no ranking da construção sustentável e em número de empreendimentos em busca de certificações ambientais. Nosso mercado já embarcou na onda da redução de impactos ambientais das obras e edificações, mas, infelizmente ainda falta entender o real valor desta sustentabilidade, que não é somente ambiental, mas tem que ser também técnica e econômica.

Frequentemente encontramos, entre os diversos atores do mercado, opiniões contrárias às certificações ambientais com a argumentação de que as mesmas criam complicadores para os projetos, para os canteiros e, muitas vezes, elevam os valores das obras. Porque então estes atores, responsáveis pelo desenvolvimento e patrocínio dos empreendimentos ainda buscam tais certificações? Fazem isso por exigência de seu público alvo ou cliente final. Fazem mesmo sem concordar ou entender como colher os benefícios deste investimento.

É fácil compreender como este quadro pode se reverter através de exemplos práticos e simples. Desta forma conseguiremos o entendimento do mercado sobre o real valor de uma consultoria de sustentabilidade ou a busca por uma certificação ambiental. Para isso, é necessário entender os bastidores da consultoria. Como é realizado este trabalho? Como ir além da conquista por pontos ou créditos das certificações? Estes pontos ou certificados devem ser encarados como o único objetivo relacionado à sustentabilidade ou devem ser a consequência de um trabalho bem feito?

Seguem 5 dicas do trabalho que deve acontecer nos bastidores da sustentabilidade.

1. Gerenciamento e Metodologia de projetos:

As certificações ambientais já identificaram o maior problema da indústria da construção civil: Planejamento e gerenciamento. Esta constatação acontece quando queremos transformar aqueles nossos projetos convencionais em “sustentáveis”. Projetos convencionais já têm, quase que como regra, as seguintes características: cronogramas e orçamentos estourados, desentendimentos entre equipes envolvidas, exaustivas revisões de projetos, retrabalhos em obras e a ocorrência de patologias após a entrega. Se pensarmos que queremos “adicionar” sustentabilidade, que nada mais é do que incorporar um requerimento de melhoria da qualidade destas edificações, a equação pode ser complicada de resolver se não repensarmos a maneira pela qual planejamos e gerenciamos todo este processo.

A certificação AQUA aborda o SGE (Sistema de Gestão do Empreendimento). A certificação LEED aborda a metodologia de projetos integrados, que virá como item obrigatório para hospitais e opcional para demais projetos na próxima versão – o LEED v4. Este assunto será um importante assunto abordado na próxima Conferencia Internacional Greenbuilding Expo, em São Paulo.

2.Trabalhando em equipe nos momentos certos:

Se a equipe alocada para desenvolver os projetos conta com uma consultoria de sustentabilidade, estes consultores devem fazer parte do processo de tomada de decisões e na definição das premissas nas etapas mais iniciais dos projetos. É nesta etapa que as decisões mais importantes e impactantes são trabalhadas. É nesta etapa que podemos buscar a maior redução de consumos e impactos ambientais aos menores custos. É neste momento que o know-how dos consultores de sustentabilidade tem o maior valor e poder de contribuição para o projeto. Se estes consultores são contratados e iniciam o seu trabalho tarde demais, boa parte do seu poder de contribuição já foi perdido e as soluções a serem desenvolvidas a partir de certo momento, acabam sendo as mais caras e menos eficientes.

Outra falha comum é o simples “esquecimento” do papel da equipe de consultores de sustentabilidade. Esta equipe deverá participar das reuniões mais importantes, onde as decisões cruciais são tomadas. Ao contrário disso, o que acontece é que os consultores recebem pacotes de projetos e soluções prontas para serem criticadas na busca de “não-conformidades”. Desta maneira, boa parte do conhecimento que realmente poderia ser utilizado e compartilhado no desenvolvimento de soluções inovadoras é perdido.

3. Entendendo a integração entre os sistemas prediais:

Exemplos práticos e reais são a melhor forma de entender os benefícios de uma correta integração entre as disciplinas envolvidas nos projetos. Quando o projeto de climatização não leva em conta o real consumo do sistema de iluminação, ele é dimensionado para combater uma carga térmica que nunca irá existir. Se a equipe de sustentabilidade está trabalhando nas reduções de consumo, a densidade de carga da iluminação será, muito provavelmente entre 10 e 30% abaixo do número de projetos convencionais.
Exemplo muito semelhante pode ser dado com o trabalho realizado para redução de ganho de calor através das fachadas e coberturas. Através deste trabalho, o sistema de climatização inicialmente projetado acaba estando superdimensionado. Ao trabalhar estas informações de maneira integrada e coerente, somos capazes de reduzir significativamente o custo inicial de um sistema de climatização, que tem um grande impacto no custo do metro quadrado.

Podemos mencionar também reservatórios que são frequentemente superdimensionados para atender edificações que não utilizam, por exemplo, louças e metais mais eficientes.

4. O aumento da produtividade nas obras:

Não são somente medidas de proteção ambiental que são tomadas nas obras. Nos bastidores da sustentabilidade, o departamento de compras das construtoras é treinado sobre como melhorar seus procedimentos e ainda agregar critérios de sustentabilidade ambiental e econômica em seus processos de aquisição.

Todos os operários do canteiro são treinados, desde o engenheiro até o servente, que aprendem sobre ecologia e a importância de um trabalho bem realizado. Estes funcionários recebem novos estímulos e incentivos através de programas de premiações. Estas e outras ações têm se mostrado extremamente bem sucedidas quando percebemos a redução do número de faltas, a melhoria da organização e limpeza dos canteiros, além de uma natural otimização dos processos. Obras mais limpas e organizadas tendem a ter menos desperdício, retrabalhos e falhas de cronograma. Todas estas ações são revertidas em resultados financeiros e na qualidade final do produto gerado – a edificação.

5. Das obras à Operação:

Com frequência nos deparamos com edificações que já iniciam sua fase de operação apresentando diversos problemas. Alguns destes ainda são de responsabilidade da construtora, que terá que alocar recursos para saná-los. Outros, aparecem e devem ser resolvidos pelas equipes de operação que, geralmente não recebem treinamento adequado para que seja possível entender e operar os sistemas prediais em toda a sua capacidade e funcionalidade.

Quando uma boa equipe de consultoria em sustentabilidade participa deste processo, ela busca a garantia de que as eficiências e bom funcionamento dos sistemas projetados seja alcançada. Desta forma, a assessoria se estende para a fase de operação, garantindo assim que os profissionais responsáveis pela mesma sejam treinados e obtenham o perfeito entendimento sobre como a edificação deverá funcionar, que números de consumo são esperados e que comportamentos foram previstos. Menor consumo, menos patologias, manutenções preventivas em dia e ocupantes satisfeitos são mais uma evidência de que o bom trabalho realizado nos bastidores da sustentabilidade traz muito mais benefícios do que a placa da certificação a ser pendurada nas entradas principais das edificações.

Se as equipes envolvidas identificarem o valor destas oportunidades e desenvolverem o seu projeto alinhado com estas ações, vão agregar muito mais valor ao seu empreendimento, com qualidade técnica e econômica, consequentemente o resultado final será muito mais do que um certificado.

” Para construir de forma sustentável, a qualidade, meio ambiente, custo e tecnologia tem que estar sintonizados, e a Casa do Futuro entende que estes valores são pré requisitos para um projeto eficiente.” Reforça Rosanna Correa, Sócia-Diretora da Casa do Futuro

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